Em um artigo recente, o autor Ian Leslie apresenta uma nova forma de olhar para a nossa preocupação mais recente: as máquinas estão aprendendo a imitar os humanos, como a inteligência artificial vai mudar nossa sociedade?
Ian argumenta sobre como os humanos vêm preparando o terreno para que os computadores assumam o controle: “Estamos nos tornando mais parecidos com as máquinas nas mais diversas áreas onde poderíamos ser inimitáveis – na criação de ideias, música, narrativa e discurso democrático. Sendo assim, a cultura gerada pela IA e a cultura feita pelo homem estão convergindo por ambas as pontas”.
A música pop se tornou menos complexa, com fórmulas prontas para agradar os algoritmos das plataformas de streaming. Os filmes de Hollywood são criados a partir da análise de dados – os estúdios usam dados para identificar talentos e avaliar histórias – e os filmes de grande sucesso parecem muito com uma equação bem resolvida. E, finalmente, para atrair o interesse nas plataformas de redes sociais, até o discurso político assumiu características de linguagem de computador (rotular objetos e atribuí-los a categorias).
Na nossa área de comunicação de marcas não é diferente, muitas vezes somos estimulados a criar seguindo fórmulas ou melhores práticas “para performar melhor na plataforma x ou y” ou incluir na ideia o “tema do momento” e o “ponto de vista mais aceito pela maioria”. Não é à toa que o resultado é a “mesmice”, justamente o contrário do desejado para um bom trabalho de marca que busca distinção, destaque e surpresa.
Enfim, “corremos o risco de perder o controle do mundo, não para a IA ou para as máquinas, mas para os modelos. As especificações formais, muitas vezes numéricas, do que existe e do que queremos”, conclui Brian Christian ao final do seu livro sobre IA e sociedade.
E Ian sugere como podemos evitar nos tornar estruturas, entidades abstratas amputadas da confusão que nos faz humanos: prestando atenção no que não podemos medir, nas coisas que despertam nosso interesse mas não se encaixam em nossos modelos; não confiando muito nos modelos que temos; aprendendo a apreciar a ambigüidade, a intuição e o mistério; abrindo espaço, de vez em quando, para superstições e ideias malucas. Acima de tudo, recusando-se, em qualquer jogo que estejamos jogando, a fazer movimentos impensados e previsíveis apenas porque são os movimentos que fomos ensinados ou condicionados a acreditar que são os corretos. Devemos nos esforçar para sermos difíceis de modelar.
Para nós do meio de comunicação de marcas, surge uma reflexão importante: como cultivar a sensibilidade e uma voz única? Como sair do caminho fácil dos modelos impostos pelas tecnologias vigentes e abrir os horizontes para o que nos torna mais humanos?
O autor finaliza com uma dica importante: “Um pouco de resistência é prudente. A barra para ser humano acaba de ser levantada; a primeira coisa que devemos fazer é parar de baixá-la”.
Artigo completo em inglês: https://ianleslie.substack.com/p/the-struggle-to-be-human